Vendedor recebe R$ 108 mil em doações após ser humilhado por cliente

Rafael usou os últimos R$ 60,00 da carteira para comprar os materiais dos salgados que foram rejeitados pelo cliente por conta do atraso

Rafael trocou Minas Gerais por São Paulo em busca de melhores oportunidades de vida. Foto: Arquivo Pessoal

Um desabafo despretensioso nas redes sociais mudou a vida de um vendedor de salgados de Marília, cidade que fica a 436 quilômetros de São Paulo, do dia para a noite. A história dele gerou tanta comoção que uma vaquinha online feita já arrecadou R$ 108 mil em apenas três dias.

A postagem feita por José Rafael Marciano, 32, foi feita logo após um cliente humilhá-lo por causa do atraso na entrega de uma encomenda de 54 salgados. O detalhe é que Rafael faz os produtos, mas ele tem apenas umas das mãos. O pedido foi feito às 9h da manhã e o combinado era que a entrega seria feita às 12h do mesmo dia.

“Como era a minha primeira encomenda, atrasei um pouquinho. Quando avisei que estava pronto, o cliente me falou barbaridades. Ele me chamou de vagabundo, me xingou e disse que eu não era profissional”, contou ao UOL.

Rafael ficou desesperado, afinal, os únicos R$ 60 que tinha na carteira foram usados para comprar os ingredientes da receita.

“A gente ficou muito triste. Era o dinheiro pra dar de comer pras minhas meninas. Aí vem uma pessoa dessa e faz isso com a gente”, desabafa Daiany Natal Maciel, 32, esposa de Rafael.

Foi então que o salgadeiro teve uma ideia que diz muito sobre o caráter dele: “Conversei com a minha mulher e decidimos distribuir os salgados para moradores de rua da cidade”.

Após a boa ação, Rafael voltou para casa decidido a abandonar a profissão que tinha acabado de começar.

“Eu chorei muito e decidi postar no Facebook para avisar que não iria mais vender para fora. No primeiro dia já levei uma dessas e pensei que aquilo não era o que Deus preparou para mim.”.

Repercussão

A postagem foi feita no mesmo grupo em que ele tinha oferecido os salgados que produz. A história foi compartilhada 17 mil vezes e mais de 44 mil pessoas reagiram à publicação. Gente que teve empatia com o que ele viveu.

“Comecei a receber ligações de gente que eu nem conheço. Pessoas que choraram junto comigo. A ficha ainda não caiu.”

Caso chamou atenção do Padre Fábio de Melo. Foto: Reprodução Facebook

Entre as pessoas que se sensibilizaram com a história e ajudaram a propagá-la estava o padre Fábio de Melo.

Ele foi humilhado por um cliente, desabafou na internet, e imediatamente recebeu uma chuva de solidariedade. É assim que a gente renova a fé na humanidade”, tuitou o religioso.

Em paralelo a tudo o que aconteceu, uma vaquinha virtual foi criada no dia 24. Em pouco mais de 72 horas, já foram arrecadados R$ 108 mil.

“Jamais imaginei viver o que a minha família está vivendo. Quero investir em uma lanchonete e, quem sabe, conseguir comprar uma casa para a minha família”, planeja Rafael.

“Até outro dia, o Rafael estava chorando por tudo o que aconteceu. Chorando de tristeza. Agora, ele tá vendo o sonho dele sendo realizado”, comemora Daiany.

História Sofrida

O vendedor de salgados colocou a mão na massa por necessidade. Ele é pintor profissional, mas por causa da pandemia viu a procura pelo serviço desaparecer. Há cerca de três meses, trocou a cidade de Monte Carmelo, no Triângulo Mineiro, pelo interior de São Paulo.

“Coloquei minha esposa e minhas três filhas no carro e viemos tentar a vida. Vendi o pouco que tinha, mas o dinheiro deu apenas pra pagar a gasolina e o primeiro aluguel”.

Essa não é a primeira vez que Rafael vive um drama. Ele nasceu com uma má formação congênita e tem uma série de limitações por causa disso. Além de não ter uma das mãos, o vendedor de salgados tem problemas cardíacos e renais.

“Apesar de tudo, tenho certeza de que vai dar tudo certo. Deus preparou para mim isso que estou vivendo”, conta.

Sem rancor

Agora, Rafael quer esperar todo o assédio passar. Ele tem sido procurado por muitas pessoas pelas redes sociais com a promessa de ajudá-lo. Quando questionado se voltaria a ter contato com o cliente que provocou toda a história, ele é direto.

“Ele já foi perdoado em meu coração. Quero que siga a vida dele”, concluiu.

*Com informação da UOL