Governo entrega kits incompletos para testes de covid-19

Somente 14.500 testes foram feitos. Parte do problema está na entrega aos Estados de kits incompletos. Estavam previstos 70.000 testes.

Governo entrega kits incompletos para testes de covid-19
Foto: Divulgação

O Brasil declarou estado de calamidade pública por conta da covid-19 no dia 20 de março de 2020. Em maio, o então secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, disse que o país realizaria 70.000 exames por dia no período “mais crítico da doença“, que para ele seria junho. No entanto, até o fim de junho, 14.500 testes diários foram feitos na rede de laboratórios públicos centrais (Lacens), o que representa 20,8% do previsto. Parte do problema está na entrega aos Estados de kits incompletos.

As secretarias de saúde informaram que receberam menos testes do que o esperado. Além disso, o governo federal entregou kits sem um reagente essencial para que as amostras sejam processadas. Como o Brasil não tem capacidade de produzir esse reagente em larga escala, a maior parte é importada.

Esse insumo faz parte do kit de extração e é usado ainda na 1ª fase de testagem, quando o RNA do vírus é separado. De acordo com os Estados, o governo federal está enviando apenas o kit de amplificação de DNA, usado nas etapas seguintes. O diretor-geral do Lacen da Paraíba, Bergson Vasconcelos, disse ao Estadão que o laboratório tem 84.000 reações de amplificação de DNA, mas somente 3.000 de extração do RNA.

“Quanto ao insumo de amplificação, que é o que aparece nas plataformas oficiais do ministério como reações distribuídas, estamos tranquilos. Mas o kit de amplificação sem o kit de extração de RNA não serve de nada”, explicou Vasconcelos. “Os Lacens de todo o País foram estruturados e treinados nos últimos meses e hoje temos condições de dar essa resposta à pandemia, mas precisamos dos insumos“, completou.

A situação é semelhante em outros Estados. O Lacen de Rondônia não recebe insumos de extração do ministério desde abril. “Como havia uma programação original do envio, alguns Estados não fizeram processos próprios de aquisição”, disse a diretora do laboratório Cicileia Correia da Silva. Goiás, Paraná, Tocantins, Maranhão e São Paulo disseram ter o mesmo problema.

TESTE PCR

O teste em questão é o RT-PCR, capaz de detectar precocemente a presença do novo coronavírus no sistema imunológico, quando a pessoa está “contaminante” -com grande possibilidade de contaminar outras. Com alta precisão, ele é considerado fundamental para diminuir o risco de propagação da doença.

No começo de maio, o governo anunciou que iria realizar 24,2 milhões de testes PCR em 2020. Segundo os Estados, foram feitos 1,2 milhão (4,9%). O Estadão entrou em contato com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), OPAS (Organização Panamericana da Saúde) e Petrobras, que disseram que as remessas que enviam incluem apenas o kit de amplificação. Elas são responsáveis por fornecer ou intermediar a entrega de ao menos 15 milhões de testes.

O Ministério da Saúde afirmou que faz a compra dos reagentes de forma separada, “e não na forma de solução completa”. Admitiu que está enfrentando “carência de insumos” a nível mundial. Em nota, ressalta que a pasta está desde janeiro “empenhando esforços” para garantir a aquisição de todos os materiais necessários para a realização dos testes e que iniciou processo de compra de 15 milhões de unidades do reagente em falta.

O método RT-PCR, afirmou a pasta, envolve fases e insumos que “sofreram, em determinado momento, escassez no mercado mundial e crescimento abusivo de preços, quando disponíveis”. De acordo com o ministério, a compra de testes pelo governo federal “não exclui a possibilidade de aquisição pelos Estados para suprir as necessidades”.

*Com informações do Poder 360*