Candidatos ‘fantasmas’ nas eleições recebem fundo milionário de quase R$ 6 milhões

Alguns desses candidatos já tiveram candidatura indeferida, ou não estão investindo em campanha digital.

Câmara dos Deputados

Candidatos de pouca expressão, ou “fantasmas”, receberam cerca de R$ 5,8 milhões pelo fundo eleitoral, dinheiro público destinado ao financiamento de campanhas durante as eleições. No entanto, esses candidatos, que em geral tiveram desempenho aquém do que se espera numa eleição, foram os que receberam maior parte desse dinheiro e praticamente não fizeram campanha.

Segundo informações publicadas pelo Estadão, esses políticos não fizeram campanha, não usaram as redes sociais para divulgar seus nomes e não distribuíram santinhos. A verba eleitoral foi parar em empresas que não entregaram os serviços e bancou despesas de outros postulantes.

Em Rondônia, o PP entregou R$ 2,2 milhões para a candidata Marlucia Oliveira, que contratou uma empresa de marketing que, até o momento, não fez propagandas em redes sociais. Quando questionada sobre como conseguiu tantos recursos, mesmo sendo estreante, Marlucia Oliveira justificou: “Sou a queridinha do partido, mas não no sentido pejorativo”.

Segundo informou O Estadão, mais casos suspeitos foram encontrados em todo Brasil, sempre obedecendo um determinado padrão. O fundo eleitoral, que neste ano ficou em R$ 5 bilhões, é distribuído por dirigentes partidários. Mais ao o que tudo indica, o dinheiro cai na conta de candidatos que não estão fazendo campanha. A divisão vem contemplando até quem abandonou a disputa ou está com a candidatura indeferida, sem devolução da verba para os cofres públicos.

Dentre esses candidatos está Adriana Mendonça, que disputaria uma vaga para deputada federal no Amazonas pelo partido Pros. A política ganhou R$ 3 milhões do fundo eleitoral e se tornou a líder nacional em repasses do partido. Em 2018, ela recebeu 41 votos e terminou a disputa naquele ano com as contas rejeitadas por ocultar gastos da Justiça Eleitoral. O valor destinado a ela é maior do que a candidatos com grande potencial eleitoral.

A campanha de Adriana se resume a 33 posts numa página do Facebook e do Instagram, no ar há duas semanas. Todos são montagens. Em nenhuma das publicações aparece interagindo com eleitores ou em vídeos pedindo apoio. As páginas somam 59 seguidores e o post com maior visualização teve 69 curtidas. Em sua página pessoal no Instagram, ela fala apenas da candidatura do ex-marido, que concorre ao governo do Amazonas pelo Podemos.

Apesar da escassa campanha nas redes, Adriana contratou uma empresa de marketing digital por R$ 750 mil. Ela é a única candidata em todo o Brasil que buscou a Digital Comunicação Ltda. Os gastos chamaram a atenção dos demais candidatos do PROS no Estado, que acionaram o Ministério Público e a Polícia Federal para investigar o repasse milionário. Atualmente, a candidatura de Adriana está indeferida por duas razões: registro fora do prazo e contas rejeitadas em 2018 por ocultar gastos na Justiça Eleitoral. Ela recorreu e continua na disputa.

O presidente estadual do Pros, Edward Malta, admitiu ao Estadão que o dinheiro repassado a Adriana é para bancar a campanha do ex-marido dela ao governo. Essa movimentação, porém, precisaria ser oficializada, o que não ocorreu. A candidata não foi localizada. O telefone informado no registro da candidatura é o do presidente do PROS.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), recebeu R$ 2 milhões para sua reeleição; Eduardo Bolsonaro (PL-SP), campeão nacional de votos na última disputa, R$ 500 mil.

(*) Com informações do Estadão