O mercado imobiliário pode estar perto de uma retomada vigorosa. De julho para cá, seis construtoras e incorporadoras captaram R$ 3,8 bilhões em novas ofertas de ações para colocar o pé no acelerador em seus projetos residenciais e comerciais. Com a queda dos juros – a taxa Selic atingiu 5% ao ano na última semana – e o maior interesse de investidores no setor, a expectativa é de que as captações possam dobrar nos próximos meses, já que outros grupos se preparam para ir à Bolsa.
O ânimo do setor é uma boa notícia para a economia como um todo. “Tradicionalmente, esse segmento antecipa o cenário de crescimento econômico. Há expectativa de recuperação do PIB, a expansão deve ser menos intensa, mas sustentável no longo prazo”, diz Alessandro Farkuh, responsável pela área de banco de investimento do Bradesco BBI, que coordenou boa parte das operações das construtoras na Bolsa.
Com esses recursos, as construtoras pretendem abrir novos canteiros de obras, sobretudo em São Paulo. E isso já se reflete em outros setores da indústria. “Começamos a sentir nas últimas semanas maior demanda por aço vinda do setor imobiliário”, disse Gustavo Werneck, presidente da Gerdau. O mesmo movimento deve acontecer com o cimento e outras matérias-primas.
A retomada do setor, que usa mão de obra intensiva, poderá ser um alento para um indicador que se recusa a apresentar melhora significativa nos últimos anos: o desemprego. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) da semana passada mostraram que a taxa ainda é de 11,8% no País, com 12,5 milhões de pessoas sem trabalho. Dos empregos gerados, a maioria é de vagas informais.
Concentração
As obras, contudo, ainda estão concentradas em edifícios residenciais e comerciais de médio e alto padrão, diz Ana Maria Castelo, analista da FGV/Ibre. “Não vejo um boom generalizado como em 2007, quando muitas companhias foram à Bolsa. A recuperação mais robusta da construção civil virá com a retomada das obras de infraestrutura.”
Diversas fontes de mercado ponderaram ao Estado que a expansão do setor imobiliário ainda se resume a São Paulo, cujo mercado se descolou do resto do País. De olho nessa oportunidade, a MPD Engenharia, líder em apartamentos de alto padrão em Alphaville, vai investir até R$ 2 bilhões em empreendimentos nos próximos três anos. Segundo o presidente da empresa, Mauro Dottori, entre 70% e 80% dos recursos serão direcionados para a capital paulista. “São Paulo tem maior dinamismo e retoma primeiro do que outros mercados.”
Além das ofertas subsequentes em Bolsa, que são uma importante fonte de financiamento para construtoras, os proprietários de edifícios têm sido assediados por fundos de investimento imobiliário de bancos. Para garantir retorno a seus cotistas, as instituições financeiras estão comprando edifícios corporativos “maduros”, que já estão alugados para empresas.
A Tishman Speyer, que desenvolve prédios residenciais e corporativos, vendeu por R$ 1,2 bilhão a torre que abriga a sede corporativa do BB, em Brasília, a um desses fundos. A empresa já tem R$ 1 bilhão captado para investimento adicional no mercado brasileiro. “Além desse dinheiro captado, está mais fácil conseguir crédito nos bancos para viabilizar projetos”, afirma Daniel Cherman, presidente da Tishman Speyer no Brasil.
Investidores locais apostam na retomada do setor de construção
Com a taxa de juros na mínima histórica, a busca tanto por imóveis quanto por fundos imobiliários tende a crescer entre investidores dos mais diversos portes. As captações feitas por grandes construtoras – como Tecnisa, Eztec, Trisul, Cyrela Commercial Properties, Helbor e LogCP – revelam um novo fenômeno no País: o maior interesse de investidores locais por ações dessas companhias na Bolsa.
O aquecimento da demanda imobiliária começou nos prédios residenciais de alto padrão, mas já “contaminou” outros segmentos. Galpões próximos à região metropolitana de São Paulo viraram alvo de grandes varejistas, que estão expandindo seus centros de distribuição, afirmou fonte de uma grande incorporadora. Escritórios também estão sendo erguidos nos poucos espaços ainda livres da região da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, e outros corredores, como as proximidades da Marginal Pinheiros, também devem ganhar novos arranha-céus.
As entregas de edifícios corporativos devem se multiplicar por oito no ano que vem, segundo a consultoria JLL, que acompanha o setor, atingindo 200 mil metros quadrados em novas ofertas.
Construtoras reduzem tempo de obra
Com a ajuda de novas tecnologias e do aumento de crédito para o setor, construtoras têm conseguido reduzir em até oito meses o tempo de obra para erguer edifícios. A intenção é aproveitar o bom momento do setor para atrair, especialmente, investidores que desistiram de aplicar dinheiro em renda fixa por causa do ganho menor.
A sinalização do Banco Central de que deve haver nova redução nos juros ainda este ano reforça o interesse pelos imóveis e a corrida do setor para poupar tempo. Até 2014, os prazos oscilavam entre 24 e 30 meses. “Hoje, estão mais para 16 ou 18 meses do que para 24”, diz Odair Senra, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil em São Paulo.
Na sua avaliação, a maior oferta de crédito está permitindo concluir edifícios num tempo menor. Com mais recursos disponíveis, construtoras dependem menos da receita de vendas e podem acelerar a produção. Com isso, terminam o empreendimento mais cedo, acertam as contas com quem emprestou o dinheiro, embolsam o lucro e partem para a construção de outro empreendimento.
“O banco quer isso porque fica com um devedor seguro, que dá o imóvel como garantia”, diz Senra. Ele observa que o risco de calote para o banco fica pulverizado, pois são vários devedores, não só a construtora. O banco também ganha potenciais clientes (devedores) para vender outros produtos.
*Com informações do UOL*