Decotelli pede demissão do Ministério da Educação

O currículo de Carlos Alberto Decotelli da Silva foi alvo de questionamentos desde que ele foi escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro.

Reprodução: Agência Brasil

O professor Carlos Alberto Decotelli da Silva entregou nesta terça-feira (30) seu pedido de demissão do Ministério da Educação. A saída ocorre 5 dias depois de ter sido anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro. É uma reação ao desgaste provocado pela exposição na imprensa de uma série de controvérsias em seu currículo.

O Poder360 apurou que o Planalto está preparando o anúncio da saída de Decotelli. Bolsonaro, inclusive, já iniciou as buscas por um substituto.

Decotelli é da reserva da Marinha. Ele presidiu o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) de fevereiro a agosto de 2019. Nesse período, viu a CGU (Controladoria Geral da União) apontar suspeita de irregularidades em uma licitação de R$ 3 bilhões.

Desde que foi escolhido para comandar o MEC (Ministério da Educação), na última quinta-feira (25), vários questionamentos sobre seu passado surgiram. Eis abaixo uma relação:

  • licitação suspeita quando presidiu o FNDE;
  • acusado de plágio em dissertação de mestrado;
  • universidade argentina diz que ele não tem doutorado;
  • ministro muda currículo pela 1ª vez depois de universidade argentina alertar sobre seu doutorado incompleto;
  • universidade alemã informa que ministro não tem pós-doutorado;
  • ministro muda currículo pela 2ª vez depois da informação de que não tem pós-doutorado.

O currículo de Decotelli, que depois viria a se mostrar inconsistente, chegou a ser exaltado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro. Ele leu, em live na última quinta-feira (29), a versão do currículo do novo ministro com os títulos posteriormente desmentidos.

Ao informar sobre o substituto de Weintraub, o presidente Jair Bolsonaro escreveu nas redes sociais:

“Informo a nomeação do Professor Carlos Alberto Decotelli da Silva para o cargo de Ministro da Educação. Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela UERJ, Mestre pela FGV, Doutor pela Universidade de Rosário, Argentina e Pós-Doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha.”

As instituições, no entanto, negaram as informações. A FGV disse que ele não foi professor efetivo na instituição e que, depois da pandemia, vai apurar o mestrado de Decotelli –trechos idênticos a outros trabalhos publicados antes indicam um possível plágio na dissertação.

Reportagem do UOL publicada na tarde desta terça- feira mostrou que Decotelli também exagerou em seu currículo militar. Apresentando como “Oficial da Reserva da Marinha” no site do MEC, ele pertence à reserva de 2ª Classe da Marinha (RM2). Isso quer dizer que ele ingressou sem concurso e prestou serviço temporário.

Na tarde de segunda-feira (29), Decotelli teve reunião com Bolsonaro. Deixou o Planalto afirmando que permaneceria no governo. Bolsonaro, por sua vez, destacou sua “honradez“, apesar de reconhecer “inadequações curriculares” de seu indicado. Disse que Decotteli “está ciente de seu equívoco“, e que “não pretende ser um problema para a sua pasta“.

Decotelli foi escolhido para assumir o MEC com a missão de “pacificar” a pasta. Isso porque tinha extenso currículo, e seu antecessor, Abraham Weintraub, acumulou polêmicas com Legislativo e Judiciário.

Weintraub chamou os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) de “vagabundos“. Teve atritos com as universidades, tentou mudar o processo de escolha de reitores (mais de uma vez), gravou vídeo de guarda-chuva dentro do gabinete contra uma “chuva de fake news“, comandou um Enem (Exame Nacional de Ensino Médio) com erros de correções e teve que prestar depoimentos na Câmara e no Senado